Quando isto acontece, coitados dos pais, ficam inquietos, atormentados, e oscilam entre o castigo, e o deixa andar. Em muitos casos tentam perceber as razões por detrás de tal atitude e não as encontram, ou limitam-se a constatar, impotentes, algumas delas.
Como reagir perante um adolescente que parece incapaz de fazer o que é necessário para ter sucesso escolar? O que fazer para que esse adolescente deixe de permanecer tão resistente ao esforço, à disciplina e ao estudo? É certo que por vezes esta espécie de "avaria no motor da motivação" se deve a reações a acontecimentos externos: doença de um familiar, ou do próprio; morte de um próximo; separação ou divórcio dos pais; ruptura de uma relação amorosa ou de uma grande amizade.
Mas não só. Por vezes a explicação deste caos motivacional situa-se no próprio processo corporal e psicológico das transformações que resultam do crescimento. A puberdade é uma metamorfose rápida e constante do corpo e do espírito. Em alguns meses, rapazes e raparigas têm mais 15 cm e um corpo de adulto. Eles têm uma grande dificuldade em lidar com esta eclosão fisiológica, em dominar um corpo rebelde cada vez mais distante da paz juvenil. Como explicar que uma criança exuberante, estabanada e alegre, se transforme de um momento para o outro num jovem tímido, controlado e meio triste? Ou o contrário? Srerá que os primeiros ao crescerem se viram para trás e têm vergonha daquilo que foram? E que os segundos, sentem que não há razão para continuarem tão inseguros, e há que se rebelarem contra a timidez? Para todos, há um denominador que é comum: a sexualidade com o seu cortejo de dúvidas e angústias. O comportamento por vezes caótico, petturbador, o discurso bruto, irrefletido e chocante não serão formas de reagir a este mundo desconhecido inquietante e perturbador que é a sexualidade em evolução? Estas preocupações, que estão no centro da atividade psíquica do adolescente, poderão inibir a sua atividade inteletual e criativa? Esta inibição inteletual, que trava o investimento escolar do adolescente, pode muito bem, ser acompanhada por uma inibição sexual, ou, pelo contrário, por uma espécie de exuberância, que reclama uma prioridade sem freio...
Acresce o seguinte: estas mudanças fisiológicas e psicológicas implicam uma mudança de paradigma na relação do adolescente com os seus pais. Para o adolescente, é necessário que os pais entendam o seu novo mundo, que não é apenas o planeta escolar, mas é todo um universo cuja raíz é muito mais fisiológica, do que intelectual. Que valor têm as notas, as aulas, os livros, diante do mistério da sexualidade? Para estes adolescentes, zero.
Neste contexto, o prazer de agradar aos pais pelos bons resultados escolares deixou de contar. Essa satisfação de agradar aos pais ou à professora da Escola Primária, motor essencial da sua motivação escolar, perdeu atualidade. Tal só é possível quando o adolescente , sentindo-se gratificado pelo sucesso escolar, adquire uma certa autonomia na gestão desse sucesso, e muito naturalmente estabelece uma distância salutar entre o seu trabalho e os seus pais. A dependência dos pais no sucesso escolar parecer-lhe-á um transtorno ao seu crescimento ao seu "tornar-se adulto".